Dr Eduardo Adnet


Médico Psiquiatra e Nutrólogo

Sobre o Transtorno do Humor Bipolar

Transtorno caracterizado por dois ou mais episódios nos quais o humor e o nível de atividade do sujeito estão profundamente perturbados, sendo que este distúrbio consiste em algumas ocasiões de uma elevação do humor e aumento da energia e da atividade (hipomania ou mania) e em outras, de um rebaixamento do humor e de redução da energia e da atividade (depressão). Pacientes que sofrem somente de episódios repetidos de hipomania ou mania são classificados como bipolares. (Classificação Internacional de Doenças - CID 10)

"O Transtorno Bipolar é tratado com medicação, e estamos avançando bastante nessa área. Quanto menos frequentes forem os episódios, então melhor será o prognóstico a longo prazo" (Drª Melissa DelBello. Professora de Psiquiatria do Centro Médico Hospitalar de Cincinnati/EUA. Cientista e pesquisadora de Farmacologia aplicada ao Transtorno Bipolar)

No chamado Pólo Maníaco do TB a pessoa sente-se eufórica, falante, com pensamento acelerado, agitada e frequentemente com idéias de grandeza (megalomania), comprar compulsivo, irritação, explosões de ira, pensamento acelerado, tentar fazer muitas coisas ao mesmo tempo, usar álcool em demasia e pode envolver-se em situações de risco. Porém, esse estado pode simplesmente desaparecer de um dia para o outro e a pessoa passa a apresentar o comportamento descrito abaixo.

No pólo depressivo (por isso chama-se bipolar - dois pólos, como pólo norte e sul) a pessoa pode experimentar severos episódios de depressão. O ânimo desaba, a auto-estima fica rebaixada, sentimentos de culpa e de frustração passam a dominar os pensamentos e os sentimentos da pessoa. Uma tristeza surge de repente, mesmo que no dia, na semana ou no mês anterior a pessoa tenha experimentado sensações de elevada confiança e tenha pensado em realizar grandes coisas e feito planos para melhorar de vida.

Perguntas Frequentes sobre o Transtorno Bipolar

 

Como é Diagnosticada essa Doença?

O primeiro passo a fim de se obter um diagnóstico apropriado é através da consulta com o Médico Psiquiatra. O Transtorno do Humor Bipolar não pode ser diagnosticado nem através de exames laboratoriais e tampouco através de exames de imagem (tomografia, ressonância), mas sim pela avaliação psiquiátrica. Bipolaridade NÃO É loucura! Logo, se você ou seu médico suspeitam que possa haver sintomas de bipolaridade atuando em seus pensamentos, afetos ou comportamento, não há porque perder tempo. Busque uma avaliação psiquiátrica.
E lembre-se: Há tratamentos eficazes!

Qual é a Causa do Transtorno Bipolar?


A causa do Transtorno Bipolar ainda não é totalmente conhecida. Fatores hereditários, neuroquímicos e ambientais provavelmente interagem em vários níveis a fim de desempenhar um papel no surgimento e na progressão da doença bipolar. O pensamento atual é que este seja um transtorno biológico que ocorre predominantemente em uma parte específica do cérebro e que também possa ser devido a um mau funcionamento dos neurotransmissores (mensageiros químicos no cérebro). Sendo um transtorno com componentes biológicos, ele pode estar latente e ser ativado espontaneamente ou pode ainda ser desencadeado por estressores na vida do indivíduo acometido pelo Transtorno Bipolar.

Os pesquisadores acreditam que tanto a genética como o ambiente têm um papel no desenvolvimento e na manifestação do Transtorno Bipolar.
Uma vez que a doença tende a ser encontrada em famílias, um fator genético estaria provavelmente na raiz da doença. Um número muito grande de pessoas com diagnóstico de TB tem um parente que sofre de algum tipo de depressão ou do Transtorno Bipolar.

Estudos têm demonstrado que tanto as fases maníacas como as fases depressivas (os períodos ou pólos do transtorno) podem ser desencadeadas por incidentes envolvendo traumas psíquicos e/ou físicos, tais como mudanças ou eventos que possam alterar o ritmo de vida, a perda de um relacionamento, problemas financeiros, dentre outros eventos. Também o uso de álcool e de drogas pode vir a desencadear (ou agravar) a doença, sendo relativamente frequente a relação álcool/drogas < -- > doença bipolar.

O Transtorno Bipolar tem Cura?

Aqui a resposta mais adequada a este questionamento é que o Transtorno Bipolar tem controle e tratamento. Na realidade, ainda não há um consenso universal sobre se há ou não cura definitiva para o TB.

Em nossa experiência clínica temos verificado o que afirma a literatura psiquiátrica, ou seja, a doença bipolar tende à cronificação. Lembrando que com o tratamento adequado os resultados são bastante promissores.

Por isso também é importante o diagnóstico correto feito pelo Médico Psiquiatra, não só a fim de que a melhor conduta (tratamento) seja estabelecida para a doença bipolar, bem como a fim de se evitar diagnósticos equivocados. Pior do que simplesmente receber um diagnóstico de Transtorno do Humor Bipolar é receber um diagnóstico de uma doença que a pessoa não tem. Diversos pacientes que nos procuram no consultório, vindo com diagnóstico de Transtorno Bipolar na realidade não são portadores dessa doença.

Para se ter certeza consideramos a avaliação pela Psiquiatria indispensável.

 


A Psicose Maníaco-Depressiva

Pelo 2º século AD, a mania e a melancolia eram consideradas sintomas de duas doenças diferentes. Soranus, um médico grego, ajudou a perpetuar esta visão. Muitas das informações de que hoje se dispõe sobre a "depressão maníaca" são resultado dos estudos de outro médico grego: Aretaeus, o qual viveu entre os anos 30 e 150 AD na cidade de Alexandria. Este médico muito contribuiu a fim de unificar os conceitos de mania e de melancolia em uma única entidade psicopatológica.

Avicena da Pérsia diferenciou o transtorno bipolar de outras doenças psiquiátricas, tais como a esquizofrenia e a mania.

Todavia, os atuais conceitos sobre o transtorno bipolar foram desenvolvidos somente a partir de 1850 pelos estudos de Baillarger, da Academia Imperial Francesa de Medicina. Baillarger usou o termo "insanidade em dupla forma" a fim de caracterizar o transtorno bipolar. Andreas Marneros, da universidade alemã Martin Luther pesquisou estes conceitos e em 2001 os reformulou chamando-os de "renascimento da bipolaridade na era moderna".

Emil Kraepelin (1856-1926), um psiquiatra alemão, estudou o comportamento de pessoas portadoras de transtorno bipolar. É ele quem detém os créditos pela conceitualização da bipolaridade até hoje.

É corrente se afirmar que pessoas conhecidas como Goethe, Vincent Van Gogh, Leo Tolstoy, Theodore Roosevelt, Abraham Lincoln e Winston Churchill eram portadores de bipolaridade, o que ajudou a divulgar e a disseminar informações sobre esta doença psiquiátrica.

Será que eu sou Bipolar?

Assim como na maioria das patologias psiquiátricas, não há exame de sangue, exame de imagem (Tomografia Computadorizada, Ressonância Magnética) ou de traçado (Eletroencefalograma) que possa servir para o diagnóstico do Transtorno do Humor Bipolar. O diagnóstico é eminentemente clínico (pela observação clínica do psiquiatra - clinicar significa: observar).

Na realidade, assim como existem muitas pessoas que são portadoras de bipolaridade e não o sabem, também há aquelas que receberam esse diagnóstico sem na verdade possuírem a doença. O médico mais indicado para fazer este diagnóstico (ou excluí-lo, quando for o caso) é o médico psiquiatra.

Todavia existem algumas características muito marcantes nos portadores de Transtorno do Humor Bipolar. Por exemplo: todos nós passamos por momentos de altos e baixos, porém entre os portadores de bipolaridade essas variações do humor podem estar por demais exacerbadas. Pode-se dizer que os “picos e os vales” são mais acentuados, embora a simples variação do humor não queira necessariamente dizer que haja a presença da bipolaridade.

A bipolaridade é uma doença psiquiátrica clinicamente importante e pode chegar a interferir de modo negativo e dramático no funcionamento global do indivíduo. Alguns portadores do THB podem tender a apresentar mais episódios depressivos do que maníacos (o pólo eufórico da bipolaridade). Mas o contrário também pode ocorrer. Os sintomas da bipolaridade podem variar grandemente de uma pessoa para outra, com diferenças imprevisíveis nos padrões de apresentação desta doença psiquiátrica, incluindo severidade e frequência de ocorrência dos episódios maníacos ou hipomaníacos, episódios depressivos e episódios mistos.

Em nossa opinião, muitos dos “testes online” para auto-avaliação sobre a bipolaridade podem confundir muitas pessoas que os realizam. Se você tem dúvidas sobre a possibilidade de estar apresentando sintomas e sinais do Transtorno Bipolar, a decisão mais acertada é conversar com seu médico, e se for o caso, ser avaliado (a) por um médico especialista em Psiquiatria.

Tratamento do Transtorno do Humor Bipolar

Sobre o tratamento do Transtorno do Humor Bipolar, bem assim como para qualquer outra doença, seja ela psiquiátrica ou não, vale o velho e sábio lema médico: Curar, se possível, aliviar sempre! O que com isso queremos dizer é que a primeira coisa a ser feita é proporcionar ao paciente um alívio dos sintomas da doença, o que normalmente se faz prescrevendo medicação que estabilize o humor, ou seja, que interfira na variação do humor característica do THB (Transtorno do Humor Bipolar). Os medicamentos de primeira escolha são todos aqueles que proporcionam esse efeito, ou seja, que livrem o paciente da dança euforia-depressão o mais rápido possível. Lembrando aqui que há pessoas portadoras do THB que permanecem mais tempo eufóricas (o chamado pólo maníaco) do que depressivas. E há aquelas que apresentam um comportamento oposto, permanecem mais tempo depressivas (pólo depressivo) do que eufóricas ou irritadas, ou ainda agitadas.

As medicações mais modernas incluem os estabilizadores do humor pertencentes à classe dos antiepilépticos. Dentre estas medicações mais modernas, hoje também se utiliza (e com excelentes resultados) os chamados antipsicóticos atípicos. E em muitos casos a melhora clínica é dramática, ou seja, é impressionante.

E não podemos esquecer do Carbonato de Lítio, que até bem pouco tempo era o medicamento de escolha para a estabilização do humor em diversas situações. Todavia, o Lítio vem perdendo progressivamente seu papel de destaque no tratamento do THB em razão da existência de outros medicamentos superiores e com menos efeitos adversos.

O uso de antidepressivos no tratamento do THB deve ser avaliado com cautela, pois em alguns casos podem até piorar a doença.

A escolha da medicação mais indicada em cada caso deve ser uma decisão de comum acordo entre o psiquiatra e o paciente. É bom que o paciente tire todas as dúvidas que tiver e que o psiquiatra explique os efeitos desejáveis e também os indesejáveis da medicação escolhida.

Também o tratamento psicoterapêutico (- a psicoterapia - o tratamento sem medicação) pode trazer ótimos benefícios a quem apresente o THB. Nós, psiquiatras, frequentemente nos utilizamos de um tratamento combinado, ou seja, medicação e psicoterapia. O que desejamos, todos nós, psiquiatras, paciente e familiares, é a recuperação da pessoa, e dentro do menor tempo possível.

Nossa Experiência com a Bipolaridade

Se tivéssemos que citar alguns dos transtornos psiquiátricos com os quais estamos mais familiarizados em nosso dia a dia, no território dos tratamentos em Psiquiatria, não haveria a menor dúvida em citarmos o Transtorno do Humor Bipolar como sendo um deles. E isto por diversas razões.

Uma delas é o fato de a Bipolaridade se constituir em um transtorno psiquiátrico de enorme importância na Psiquiatria, o que desperta, de modo importante, o nosso interesse por essa condição psiquiátrica. Também tem sido pela luta contra a Bipolaridade que diversos novos estudos e pesquisas têm sido conduzidos com a finalidade de não somente conhecer melhor o Transtorno Bipolar mas também as fascinantes e curiosas variações do comportamento humano, quer sejam elas patológicas ou não.

Mais importante ainda é o conceito do Espectro Bipolar, o que denota um vasto território em Psicopatologia e com fronteiras ainda não muito bem delimitadas entre o que sejam as variações normais do humor e as variações patológicas. É fato, todavia, que assim como variações normais do humor podem (e são) confundidas com a Bipolaridade autêntica, também, por vezes, as variações patológicas do humor têm sido confundidas com variações fisiológicas (naturais) do humor de uma pessoa.

Aliás, este é um dos problemas mais frequentes que temos observado em nossa experiência com o tratamento de pessoas que nos procuram afirmando serem portadoras do Transtorno do Humor Bipolar (THB). Isto porque muitas dessas pessoas, algumas delas tendo recebido o diagnóstico de Bipolaridade emitido por médicos não especialistas em Psiquiatria, não são e nunca serão bipolares. Por outro lado, há aquelas que chegam ao nosso consultório afirmando serem portadoras de Depressão, quando na realidade são bipolares autênticas. Porém, uma avaliação cuidadosa e criteriosa de cada caso pelo especialista em Psiquiatria é, na maioria das vezes, o suficiente para que se chegue a um diagnóstico preciso e a um tratamento adequado e eficaz.

Finalizando, a Doença Bipolar se reveste de características muito próprias e específicas, dentre as quais se destacam o problema da sua cronicidade, sobre a qual o consenso geral na psiquiatria parece corroborar esta sua característica, e também as suas multiformes apresentações clínicas, o que faz do THB uma como que doença polifacetada, restando aos portadores deste transtorno psiquiátrico uma atitude séria e contumaz a ser tomada frente a um transtorno cujo final do tratamento pode ter, sim, um final feliz.

 

Dr Eduardo Adnet

Médico Psiquiatra e Nutrólogo